terça-feira, 1 de julho de 2008

EUA: programa escolar coloca estudantes no mercado

Podem esquecer as velhas aulas de "orientação vocacional" que convenciam muitos alunos a não optar pelo estudo superior. Nos últimos 25 anos, uma nova espécie de programa conhecido como "academia de carreiras" surgiu nas escolas de segundo grau, especialmente em bairros mais pobres, para combinar esforços de colocação profissional, preparação para a universidade e aulas que vão além dos cursos vocacionais antigos, para carreiras não universitárias como Contabilidade ou Enfermagem.Agora, uma rigorosa e prolongada avaliação de nove desses programas, em todo o Estados Unidos, que será divulgada em Washington na sexta-feira, constatou que, oito anos depois de formados, os participantes desses programas desfrutam de índices de emprego e de salários mais elevados que os de outros estudantes acompanhados como grupo de controle.Os especialistas em combate à pobreza classificam a constatação como encorajadora, porque poucas intervenções junto a jovens de baixa renda, especialmente negros e hispânicos, demonstraram efeitos duradouros e significativos, e elas surgem em um momento no qual os homens jovens e membros de minorias, em especial, estão perdendo terreno de maneira desastrosa no mercado de trabalho.As academias de carreiras oferecem aos alunos experiência de trabalho e os ajudam a obter empregos remunerados, enquanto eles realizam seu trabalho acadêmico regular. Quando o estudo, conduzido pela Manpower Demonstration Research, foi iniciado, 15 anos atrás, havia menos de 500 academias de carreiras em operação nos Estados Unidos. O número agora supera as 2,5 mil, e as conclusões do estudo devem estimular crescimento ainda maior.Os participantes eram em sua maioria negros e hispânicos, e as escolas tinham ênfase em disciplinas como negócios, turismo, saúde e eletrônica, com alunos matriculados por três ou quatro anos. Oito anos depois de encerrado o segundo grau, a maioria dos participantes tem 26 anos, e a renda média dos egressos desse tipo de programa é 11% mais alta - o equivalente a US$ 2.088 anuais a mais - do que a do grupo de controle."As demonstrações constatam que é possível investir no ensino de segundo grau de uma maneira que ainda terá efeito mensurável sobre a renda muito tempo mais tarde", disse James Kemple, autor do estudo e especialista em educação da Manpower, uma organização sediada em Nova York que avalia os efeitos de programas de combate à pobreza."Eles também demonstram que se pode oferecer uma boa entrada no mercado de trabalho sem comprometer a capacidade do estudante para continuar seus estudos em uma universidade", segundo Kemple. Para comparar estudantes semelhantes, os voluntários que se inscreveram para o estudo foram designados aleatoriamente para estudar nas academias ou servir como grupo de controle e não participar delas.Homens e mulheresA elevação na renda foi mais perceptível entre os homens que passaram pela academia, com diferença anual de 17% ou US$ 3.731. Os pesquisadores não sabem bem por que as mulheres tiveram ganhos bem menos significativos, e planejam estudar possíveis influências, tais como o tempo que elas dedicam a criar filhos e o tempo mais longo que as mulheres em média destinam à educação posterior ao segundo grau, que tende a produzir renda mais alta somente quando elas concluem sua educação superior.Para surpresa dos pesquisadores, os dois grupos não apresentaram diferenças em termos de conclusão do estudo secundário e do ensino superior. Nos dois grupos, 90% dos estudantes concluíram o segundo grau e obtiveram um diploma GED, e 50% tiveram pelo menos alguma educação superior - índices bem superiores à média em suas populações escolares.Os pesquisadores acreditam que aqueles que expressaram interesse inicial pelo ensino superior podem ter compartilhado de motivação semelhante para o sucesso, quer tenham sido escolhidos para as academias de carreira, quer não. Mas isso sugere igualmente que alguma coisa na experiência acadêmica, para além da educação em si, promove maior sucesso no mercado de trabalho.Um provável fator é que as academias de carreira ofereciam acesso a adultos em locais reais de trabalho, diz J. D. Hoye, diretor do programa de colocação profissional de estudantes de segundo grau no governo Clinton e hoje presidente da National Academy Foundation, que assessora as academias de carreiras sobre currículos e outros assuntos. "Os alunos podem ver como é trabalhar, e constroem uma rede de adultos que se interessam por eles nas escolas e nos locais de trabalho", disse Hoye.Os estudantes de uma academia de carreiras se mantêm unidos como grupo. Usualmente recebem estágios pagos no segundo ano de colegial, alguns dos quais se transformam em empregos que eles mantêm até a faculdade. Na academia de turismo da Miami Beach Senior High School, por exemplo, muitos começam trabalhando nas recepções de grandes hotéis, e a esperança de alguns dos participantes é usar essa experiência para conquistar cargos executivos nessas empresas.Escolas participantesUma escola participante é a Santa Ana High School, do sul da Califórnia, onde 90% dos quase três mil alunos são hispânicos e cerca de 180 deles participam da Academia Global de Finanças. Além das matérias tradicionais, eles recebem aulas de Computação e Contabilidade, e estudam o mercado de ações, o de imóveis e o de finanças pessoais. Eles fazem estágios em bancos, escritórios de advocacia e empresas de finanças, e na administração do distrito escolar, entre outros lugares.Os estudantes parecem se beneficiar de sua participação em um grupo pequeno e especial, disse Mark Bartholio, o diretor da academia. Muitos optam por não procurar carreiras em finanças, mas em lugar disso se tornam professores, assistentes sociais ou trabalham no ramo da justiça, ele afirma, mas um dos formandos disse que a contabilidade que ele aprendeu no programa o ajudou a abrir sua pequena empresa."As academias de carreiras dizem aos alunos que, caso se disponham ao esforço necessário para obter um diploma universitário, há caminhos abertos para eles", afirmou David Stern, especialista em educação da Universidade da Califórnia em Berkeley e um dos primeiros proponentes das academias de carreiras. "Mas mesmo que eles não queriam fazer curso superior, ou não o concluam, têm alguma experiência profissional a que recorrer, e isso lhes confere uma pequena vantagem no mercado de trabalho".
Texto: Erick - Eckholm Tradução: Paulo Migliacci ME
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