terça-feira, 1 de julho de 2008

Estudo liga concorrência escolar a estresse


Eles rezam [foto: Pais se desespera após confirmar em lista de admissão que seu filho não foi selecionado para uma boa escola]. Guardam dinheiro para propinas. Não conseguem dormir. Este é o inverno do descontentamento para os pais de crianças pequenas da Índia, especialmente na próspera capital, Nova Delhi, uma cidade de rápido crescimento onde as demandas da ambição e da demografia colidem com uma escassez de escolas desejáveis.Este ano, as admissões para o ensino pré-escolar em Delhi são disputadas por crianças de apenas três anos de idade, e a escola em que elas conseguem vaga é vista como determinante para seu destino educacional.E é por isso que um homem de negócios que inscreveu seu filho de quatro anos em 15 pré-escolas privadas correu a uma prestigiosa academia na região sul da cidade, certa manhã da semana passada, para verificar se o nome de seu filho constava da lista de matrícula. Não constava, infelizmente, e, na caminhada de volta ao seu carro, o pai preocupado ponderava em voz alta se os casais indianos não deveriam pensar em ter filhos apenas depois de garantir vagas em uma boa escola."Você tem um filho, e não há escola para matriculá-lo", ele lamentou. "Isso é insano. Não consigo dormir". Como indicação de sua ansiedade, o pai, um empresário de 36 anos, se recusa a divulgar seu sobrenome, por medo de que isso ameace as chances de admissão de seu filho em uma boa escola. Ele concordou, com relutância, em permitir que seu prenome, Amit, fosse publicado na matéria.A ansiedade quanto às admissões escolares é uma parábola de desejo e frustração no país que abriga a maior concentração mundial de jovens. Cerca de 40% do 1,1 bilhão de indianos têm idade inferior a 18 anos; muitos outros são jovens dos seus 20 ou 30 anos, já casados e pais de crianças em idade escolar.Hoje, as escolas públicas não são consideradas como opção aceitável por ninguém, exceto os indianos mais pobres, porque sua qualidade de ensino é baixa, e a concorrência por vagas nas melhores escolas particulares é ferrenha. A disputa é parte da grande corrida indiana por uma educação melhor, que atinge todo o território e todas as faixas socioeconômicas do país.Os indianos de renda mais modesta economizam ou tomam empréstimos para matricular seus filhos em escolas privadas. Em certos casos, crianças de cidades pequenas viajam mais de 60 km por dia para estudar em boas escolas, ou pelo menos escolas procuradas, em outros municípios. Novas instituições privadas surgem constantemente, e industriais e incorporadores imobiliários indianos, e até mesmo algumas empresas estrangeiras, estão de olho no mercado indiano de educação.Como muitas outras coisas na Índia, nesse mercado a procura é bem maior que a oferta, em meio a uma onda de crescimento e de enriquecimento que leva os pais, cujas infâncias foram difíceis a sonhar com algo melhor para seus herdeiros.Amit reconhece os anseios de sua classe social: "O apego às marcas dominou o país. As pessoas prestam atenção no carro que você dirige, nas roupas que usa, na escola que seus filhos freqüentam".Vir Singh, 68 anos, funcionário público aposentado, percebe a mudança em sua própria família. Um de seus filhos estudou nos Estados Unidos e continua morando lá, e outro se formou em uma boa escola privada de Delhi e conseguiu emprego em uma multinacional, mas hoje se recusa a matricular sua filha na escola em que estudou. Singh diz que seu filho deseja que sua neta estude só nas melhores escolas da cidade. "A sociedade mudou", ele afirma. "Agora, só as melhores escolas servem".
Texto: Somini Sengupta - Tradução: Paulo Migliacci ME
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